Açúcar Mascavo Poeta


 

POEMAS PARA UMA MULHER

Epílogo

eu canto teus cabelos
que apontam para o sol
o crisol dos teus pêlos
teus umbrais
os teus dentes que remontam
ao marfim
de sorrisos ancestrais

III

e assim tua pele nua
flash de luz escura
derramada como um cântico
nos cântaros da memória
um nu puro, carne dura
a glória in natura
perfil de estátua grega
doçura de pele negra
um relâmpago que refaz
sorrisos na aurora

LV

(nua nua) é absurda
flamejante
contornada de poesia
desmedida
de luxúria
é um arco luz madura
e exata
acobreada anoitecida
é a sede e a sidra
arredondada escurecida
é um sonho e a vida

I

veio a chuva na savana
e seu colar híbrido de lianas
veio um pingo na caatinga
repisar velhos desertos
vieram rios mas bem antes
oh, suplícios
a secura lançou redes
veio água desfazer aquela sede
veio a verve e a mudez
vieram olhos pra beber tua nudez

IV

em teu gesto vivem todas
as mulheres
as negras e as brancas
as falsas e as francas
as melhores e as piores
você ergue-se monolítica
como todas as lutadoras
e se cansa quando dança
se distrai
se desveste dos temores
e traz calor e afasta o frio
você se esquece
pra aquecer o mundo vil

VIII

quando o tempo não era nada
apenas lua na varanda
eu sonhei uma alvorada
feita de riso e ciranda
essa moça tão bonita
dançando o seu samba
habitava o meu sonhar
vinha lá de angola janga
vinha me acalentar
com seu véu e sua guirlanda

Interlúdio

eu clamo por tua voz
- canção celeste -
pelo corpo que se esconde
no verde-limão de tuas vestes

XX

quem fala é seu corpo
seu pescoço torneado
quem fala são seus cabelos
os meneios de seu colo
quem fala é sua barriga
ilha de manhã alada
quem fala é o seu sexo
seu torso são palavras
uma metáfora obsessiva
uma sintaxe complexa
uma linguagem inesperada

A1

ela é mulher que se gosta
não aceita rendição
se faz guerreira e se mostra
muito além de qualquer "não"
esquece a dor e a choradeira
desfaz laços e feridas
inventa passos inventa modas
se reinventa na vida

Prólogo

Jazzzz...as curvas e arestas as formas e festas gotas de leite nos bicos e frestas...azzz

Açúcar Mascavo é um poeta itinerante