Os Cadernos foram criados em plena fase de redemocratização do país

 

 

Em 1978 surgiu o primeiro volume da série CADERNOS NEGROS, contendo oito poetas que dividiam os custos do livro, publicado em formato de bolso com 52 páginas. A publicação, vendida principalmente em um grande lançamento, circulou posteriormente de mão em mão, sendo distribuída para poucas livrarias, mas obteve um expressivo retorno dos que tiveram acesso a ela.
 Desde então, e ininterruptamente, foram lançados outros volumes - um por ano - alternando poemas e contos de estilos diversos. A distribuição aperfeiçoou-se, procurando chegar a um público mais amplo e diversificado do que aquele atingido pelos primeiros volumes. Escritores de vários Estados do Brasil vêm publicando nos Cadernos. É preciso assinalar que não existem outras antologias publicadas regularmente com textos de autores afro-brasileiros, em grande parte devido às dificuldades financeiras inerentes às publicações deste tipo. Sendo assim, os Cadernos têm sido um importante veículo para dar visibilidade à literatura negra.

 
 

 

O material publicado nos Cadernos tem sido fonte para ensaios, teses e estudos diversos por parte de estudantes de Letras, pesquisadores e professores universitários.
 No campo estético ou enquanto forma de resistência cultural, os Cadernos têm tido importância inegável e, proporcionando oportunidade para o exercício de criação literária diferenciada, possibilita que os descendentes de africanos passem de objeto a sujeito da escrita, enriquecendo ainda a discussão a respeito da questão racial.
 A venda principal dos Cadernos ocorre no lançamento de cada volume. Estes eventos chegaram a reunir 2.000 pessoas, têm performances poético-dramáticas e espetáculos de dança. O público leitor de Cadernos é heterogêneo, sendo constituído, majoritariamente, por pessoas da comunidade afro-brasileira, especialmente universitários, professores e profissionais liberais. Mas também há leitores comuns e intelectuais pertencentes a outros segmentos étnicos da população.
 Os Cadernos atendem a uma demanda por um tipo de literatura não oferecida pelo mercado editorial. O seu nome tornou-se uma marca cujo alcance vai além dos limites de distribuição e venda dos livros.
 Os Cadernos Negros têm sua organização e editoração a cargo do Quilombhoje (que também se encarrega do lançamento e distribuição), o grupo arca com parte dos recursos e outra parte é dividida pelos autores participantes, num processo cooperativo que tem permitindo superar as barreiras impostas pelo mercado. Recentes volumes foram feitos em co-edição com uma editora.